terça-feira, 24 de março de 2015

Este amor pelas coisas quotidianas

Este amor pelas coisas quotidianas,
Em parte intrínseco ao grande olhar da infância,
Em parte um cálculo literário,

Estaremos apenas a evitar o nosso único e verdadeiro destino
Quando fazemos isso, desviando o nosso olhar
De Philip Larkin que espera por nós com um casaco de coveiro?

Os ramos despidos contra o céu
Não vão salvar salvar ninguém do vazio que os envolve,
nem o açucareiro ou a colher de açúcar em cima da mesa.

Então para quê preocuparmo-nos com o farol axadrezado?

Para quê perder tempo com o pardal,
Ou as flores selvagens ao longo da estrada

Quando todos devíamos estar sozinhos nos nossos quartos
A atirarmo-nos contra a parede da vida
E a parede oposta da morte,

Com a porta trancada atrás de nós
Enquanto arremessarmos pedras contra a questão do sentido
E o mistério das nossas origens?

Para que serve o pirilampo,
A gota deslizando ao longo da folha verde,
ou até o sabonete escorregando em volta da banheira

Quando devíamos realmente estar
 A bater tão forte quando podemos no mistério
E os vizinhos que se danem?

O bater sem parar no próprio Nada,
Alguns com as testas,
Outros com o malho dos sentidos, o queixo levantado da poesia.

Billy Collins